quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Em abril, no Ordovás, estreia nacional do espetáculo de teatro "Tango"

Com Roberto Ribeiro e Tina Andrighetti

Um homem, uma mulher, um tango, uma relação.  Somos o que dançamos e somos também o detrás do que dançamos.

Direção: Ana Woolf  (Argentina)
Música: Gutto Basso
Texto: Patrícia Zangaro (Argentina)
Tradução: Rogério Viana

Tango, um duelo sexual.

Tango foi contemplado com o Prêmio Anual de Incentivo à Montagem Teatral da Secretaria Municipal da Cultura de Caxias do Sul

Apresentações:  20 e 21 de abril às 20 h   -   26 de abril às 18 e 20:30 h -  27  de abril às 20 h.
Local:  Sala de Teatro Professor Valentim Lazzarotto do Centro Municipal de Cultura Dr. Henrique Ordovás FilhoCaxias do Sul. 

 Ingressos a preços populares: inteiro R$20,00 – meia entrada R$10,00. Venda antecipada na Óptica Martinato,  à  Av. Julio de Castilhos,  1867 , Centro, Caxias do Sul. Fone 54-3221-2390.

Realização: Grupo Teatro Mecânico e Teatro do Encontro

Contato (54) 9995-2107 – (54) 8402-2435 - teatrodoencontro@gmail.com 

Tango, o que está atrás ou Diga-me o que danças e eu te direi quem és. (Ana Woolf)

Personagens: ELE - ELA
Didascalia: Um homem e uma mulher sentados de frente para o público. Permanecem imóveis.

Estas são as únicas rubricas da autora em todo o texto. O resto está no silêncio do não dito no curso da dança de palavras. Escutem as primeiras frases e verão que ali já se define tudo, as cartas estão sobre a mesa e os jogadores, ELE e ELA, já estão jogando. ELE, marcando o compasso, ditando as normas, ELA, aceitando a marcação – a mão.

Eu danço tango. Corpo a corpo, regra a regra e com uma voz que diz: “Segue a marcação, nena.”  Cada vez que entro no salão eu deixo a cabeça lá fora. E decido dançar. Jogar o jogo embaralhado por ELE. Sei que uma vez ali, no abraço, o jogo não pode ser interrompido. Uma vez começada a dança, ou o duelo “sexual” como escreveu Zangaro, tem que continuar até ELE acabar, o tango, até o “mata-me” e “morro”, até a união de paixão e morte, até o encontro trágico num delírio de êxtase da dança que se torna bacanal.

Propondo perguntas
Por que fico? Por que ELA fica? Por que ficamos? Quais são as estratégias de “engate” que nos fazem saber que ali está a porta e não podemos sair?
O chamado sexo
O categorizado gênero
   O recebido
O consumido
       O não pensado
O aceito         O que concebemos como “natural”
tem sua origem. Sua genealogia. Seu momento de construção.

Quem construiu as regras do tango em sua passagem de dança de homem com homem a dança de mulher com homem?
Os papéis de gênero são armadilhas que nos agarram à força.

Somos o que dançamos
Quando nascemos, ou diante da primeira imagem de ultrasson, passamos da categoria “neném” a “é uma menina”, “é um menino”. A denominação é um modo de fixar uma fronteira e também de inculcar repetidamente uma norma – escreveu Judith Butler.

Na dança do TANGO a tradição deve ser mantida. O sexo (que já traz consigo a identidade de gênero) determina o papel que se vai representar e como, no tango e além do tango. O masculino e o feminino estão construídos como categorias com funções estabelecidas, qualquer desobediência gera punição. Codificação de gestos e ações. Codificação de modos de vincular-se e de formas de estabelecer relações. Desde o pequeno, desde o micro, “a dança de dois”, até o macro. 
Dançar o TANGO é também uma forma de ser latinoamericana. Uma maneira de estabelecer relações entre homens e mulheres não só durante os instantes da dança, mas  além da pista de baile.
Somos o que dançamos sim, mas sobretudo somos o que está além do que decidimos dançar. Somos o que está no espaço do abraço entre ELE e ELA, na ressonância que permanece em nós na forma de sentimento/pensamento que nos predispõe à escuta de: “deixe- se levar como um trapinho”. Somos o que fica dessa ressonância e habita a zona de nossas tantas coisas não ditas. Assim é para ELE como para ELA, estamos todas e todos na rede da aranha social.

As regras são históricas mas não história desde sempre, não se incluem na categoria “natureza”. ¿Será que compreendendo/vendo/ mostrando o que está no silencio da dança, entre um “enganche”, um “amague”, entre um “ocho y ocho”, entre um “gancho” e um “boleo”, podemos continuar dançando sabendo o que dançamos quando dançamos, com a consciência de que somos  transmutáveis, transformáveis, construções efêmeras que passam por um salão de dança chamado “vida” só durante o instante que dura o tango – a marcação - que escolhemos seguir?

Gostaria que TANGO de Patricia Zangaro, aqui dançado por Tina, Roberto, Gutto e por mim, possa lhes dizer enquanto dançamos, nós e vocês: Tem um campo do discurso e do poder que orquestra, delimita e sustenta aquilo que se qualifica como “o humano.” (Judith Butler)

Questionemos então a própria “humanidade”.